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sábado, 26 de novembro de 2011

Se eu chorei à noite?

Foi quando eu chorei à noite que as luzes estavam apagadas, o quarto estava quieto, a janela estava aberta – e o frio me castigava – as luzes do poste eram brilhos de solidão.

Foi quando eu chorei à noite que percebi o barulho do passos desconhecidos ao longe cortarem a sintonia e sobrepujarem o abafo que o meu travesseiro produzia.

Foi quando eu chorei à noite que percebi que embora a lua brilhasse, ela não me iluminava; que embora ela sorrisse, não me encantava; e mesmo tão diferente a mim, éramos tão iguais: eu estava sozinha, ela estava sozinha, e nós não nos fazíamos companheiras, pois eu era egoísta o suficiente para admitir sofrer e não precisar, nem que minimamente e em silêncio, de alguém. Talvez, mesmo que a lua me acompanhasse, eu ainda estivesse com um vazio divagando em mim.

Foi quando eu chorei à noite que eu vi o que eu não tinha visto: que o brilho mais lindo dos seus lábios era tocável apenas na memória, que o seu cheiro era tão bom que era irreproduzível: o aroma do perfume que estava ali parado na estante era divino, não pelo talento de quem o produziu, mas pelo seu cheiro que dava um toque tão rústico e forte em mim. Foi quando eu chorei que tentei tocar o céu da solidão, e continuei a chorar para com minhas lágrimas inundar o meu mundo vazio.

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