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quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Escritores da liberdade


São algumas as definições para um corpo. Físicamente, eu poderia usar o epíteto o corpo é "um  conjunto de átomos, dispostos em diferentes formas". Biologicamente, eu usaria a setença de que um corpo "é uma estrutura total e material do organismo humano". Atreveria-me a escrever, teologicamente, que um corpo é um receptáculo para a alma. Curiosamente, eu sentiria a sensação de estar coerentemente correto e não enxergaria razões para me contradizer. Talvez o risco tenha sido separar apenas por um ponto duas raízes distintas? A fé científica, a fé no divino (coloquei-as o mais próximas possível até onde a sintaxe é capaz de me permitir). Talvez. Talvez o risco seja começar meu primeiro texto, como aluno de um curso superior de uma Universidade, de forma contrária as páginas científicas? Se esse for o caso, tenho o green card da minha professora de Bases Anatomofisiológicas (que mesmo lecionando uma disciplina como essa, usa em sua apresentação trechos da consagrada obra de Guimarães Rosa, "Grande Sertão: Veredas". Belo começo).

O primeiro parágrafo tenta aproximar pólos distintos, gregos e troianos, ciência e religião. Tentar tornar homogêneo o que construiu-se, em nós, como heterogêneo. Ele respira um pouco pela persistência e exemplo da professora Erin Gruwell. Branca, inteligente, rica. Protagonista do filme "Escritores da Liberdade" ("Freedom Writers") junto com sua insurgida classe 203. Um conjunto perfeito para o paradoxo que seria dar aulas em um gueto americano, para alunos excluídos que duelavam entre si e eram perseguidos socialmente, além de desinformados e desinteressados, em que a vida poderia resumir-se à chegar aos dezoito anos ou não. Com um talento que beira a loucura ou a epopéia, professora G. (carinhosamente chamada pelos seus alunos) consegue transmutá-los através da única forma que um homem pode transcender em sua vida e dissipar seu estado constante de ignorância: tendo direito a educação. Teoricamente prático, fonéticamente repetido no horário eleitoral pelos políticos, a educação não é tão simples e fácil como se imagina ou se ouve. A escola de Long Beach poderia ser qualquer escola do subúrbio campinense e os problemas não seriam muito diferentes. A realidade tratada pela película, mensurando as devidas proporções, seriam quase idênticas.

A sala 203 é o encontro de todo o problema de Long Beach: brancos, negros, orientais, latinos. É como convidar, diariamente, para o chá das cinco Deus e o diabo. Enfrentando um burocrático e retrógrado sistema de educação (que lembram as obras de Kafka), a professora G aposta na evolução moral, educacional e ética de seus alunos. Consegue visualizar e acender uma fogueira, com um simples isqueiro, no espírtito de cada um. Aproxima o objeto do observador, faz saltar as palavras clássicas das páginas de celulose para os olhos. Dá a todos os alunos o direito a escolher como escrever seu vida dali para frente, garantindo, indistintivamente, a educação como escudo. Faz com que cada um de nós pense seu lugar nesses problemas socio-educacionais e quanto que estamos contribuindo para a solução desses males.

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