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quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Perfume: a história de um assassino


Jean-Baptiste Grenouille foi um herói. Jean-Baptiste Grenouille foi um assassino. Jean-Baptiste Grenouille foi algo inimaginável. Pensando que comparados a outros mamíferos, nós, seres humanos, possuímos o olfato pouco desenvolvido. Esse pouco desenvolvimento, comprovado, dá mostras de sua imensidão, ou melhor, de sua profunda inalação. 

Tentei provocar a imaginação do leitor com a primeira frase. Tentei provocar a ira do leitor com a primeira frase: como um assassino de mulheres pode ser herói de alguém? Tentei provar por um mais dois que três podem produzir mais loucura que um, que dois. É inegável que ele é um assassino, é inegável que sua história não se resume a isso.

Jean-Baptiste Grenouille era pobre, fedorento, magrelo. Nasceu em uma suja Paris que para livrar-se do próprio cheiro operou, em pequenos frascos, sensações delicadamente prazerosas, provocativas. Jean-Baptiste Grenouille possuía apenas um talento (e contradizendo o título do filme, esse talento destacado por mim não é o de matar, pois matar é instinto do ser humano: uns o aprimoram, outros o adormecem eternamente): cheirava. Lia o mundo com as correntes de ar que adentravam suas fossas nasais e eram captadas pelas células olfativas que, em pleno funcionamento, informavam o sistema nervoso, que as interpretava. As sensações olfativas produzidas pelo corpo eram as páginas na qual seu nariz corria lendo.

Jean-Baptiste Grenouille era refém do seu único talento. Embora fosse divinamente privilegiado com uma extraordinária capacidade de captar os mais diversos e únicos aromas, estava sujeitado humanamente à submissão da glória. Jean-Baptiste Grenouille por alguns instantes salvou uma sociedade; sacrificou donzelas, mulheres e jovens para presentear uma população pútrida ao sabor sublime que o amor incondicional é capaz de proporcionar naqueles que têm o privilégio de senti-lo. Sentimento esse que o próprio Jean-Baptiste Grenouille era incapaz de sentir e de produzir intrinsecamente. 

Perfume não é só a história de um assassino insano e desenfreado. Perfume não é só a história de um talentoso homem presenteado com o dom de perceber o mundo com o nariz. É a história de alguém que luta, com todas as armas que tem, em produzir algo que não nunca teve, recebeu ou sentiu.

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