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quinta-feira, 30 de junho de 2011

Pedúnculo

Vestido rosa, manto doce para flor branca. Vestido rosa, que revestia o corpo encantador da princesa. O vento que corria e a conduzia num redemoinho demoníaco de um prazer demente. Ela correu com as lágrimas suspensas nos olhos, com os pés céleres, com a mente aturdida e pronta para redenção que o descanso traz. Pronta para voar em busca de paz. O mar tomava força e arrancava com seus sons, angústias. O seu poder natural era somado ao gigantismo ao castigar a areia da praia.
A montanha erguia-se coberta de história, de capim-verde e de emoções, e as águas do mar lavavam-na.
Ela já estava lá em seu alto a contemplar tudo e todos. Contemplar sem ser contemplada sendo mais uma na equação tenebrosa que só a solidão faz. De longe, via as luzes da cidade, as pessoas, as ondas do amor e se via mais longe. Onde encontrar coragem para fugir disso tudo? O princípio estava distante e no decorrer não se enxergava mudança. O vento balançou seu corpo, deus ou diabo pareciam próximos dela, e na negociação se omitiam. As sandálias estavam gastas, os pés sujos - da água e da areia do mar - tremiam de medo e a pele maltratada se arrepiava do destino irrefreável. O vento zumbiu pavor e dúvida cantando a última canção de sua vida: cantando sua própria vida com acordes sem cordas, com cordas sem sons, instrumentos sem ritmos, sem cantores afinados, afinados sem voz.
Quantos passos é preciso dar para se chegar ao ponto final? Quantas histórias terminam sem ponto final? Quantos beijos se dão até o último beijo levar? Não havia mais dor, não havia mais frustrações. Não havia mais pelo que chorar, não havia mais pelo que sorrir. Mas quantos pontos são finais sem estarem no fim? Quem conta os passos, os pontos e os beijos é mais louco do que os que vivem sem beijos, passos ou pontos? Quantos rostos se vêem quando se olha sozinho para o espelho? Quantas almas um corpo é capaz de guardar? Quantas vezes se é capaz de perdoar? Quantas segundas chances se dão até se compreender que os erros, a vergonha e decepção persistirão? Quanto a consciência é capaz de suportar por não ceder uma nova chance para o acaso dos laços do afeto? Quantos amores se vivem até saber que se vive sem amores? Quantos amores se vêm e vão sem recordação? Quantos marcam o peito para sempre? Quantas trevas a luz é capaz de repelir? Quanto de cada segundo se leva para o próximo? Quantas horas para a hora chegar? Quantas voltas o relógio dá até parar? Quantos suspiros até o corpo parar?
Saltou com o peito vão cheio de decepções e em busca de cura. Mergulhou no abismo a procura do que lhe faltava, nadou até o insondável. Reclinou a cabeça em um travesseiro macio de areia. E dormiu.

Pedúnculo

Vestido rosa, manto doce para flor branca. Vestido rosa, que revestia o corpo encantador da princesa. O vento que corria e a conduzia num redemoinho demoníaco de um prazer demente. Ela correu com as lágrimas suspensas nos olhos, com os pés céleres, com a mente aturdida e pronta para redenção que o descanso traz. Pronta para voar em busca de paz. O mar tomava força e arrancava com seus sons, angústias. O seu poder natural era somado ao gigantismo ao castigar a areia da praia.
A montanha erguia-se coberta de história, de capim-verde e de emoções, e as águas do mar lavavam-na.
Ela já estava lá em seu alto a contemplar tudo e todos. Contemplar sem ser contemplada sendo mais uma na equação tenebrosa que só a solidão faz. De longe, via as luzes da cidade, as pessoas, as ondas do amor e se via mais longe. Onde encontrar coragem para fugir disso tudo? O princípio estava distante e no decorrer não se enxergava mudança. O vento balançou seu corpo, deus ou diabo pareciam próximos dela, e na negociação se omitiam. As sandálias estavam gastas, os pés sujos - da água e da areia do mar - tremiam de medo e a pele maltratada se arrepiava do destino irrefreável. O vento zumbiu pavor e dúvida cantando a última canção de sua vida: cantando sua própria vida com acordes sem cordas, com cordas sem sons, instrumentos sem ritmos, sem cantores afinados, afinados sem voz.
Quantos passos é preciso dar para se chegar ao ponto final? Quantas histórias terminam sem ponto final? Quantos beijos se dão até o último beijo levar? Não havia mais dor, não havia mais frustrações. Não havia mais pelo que chorar, não havia mais pelo que sorrir. Mas quantos pontos são finais sem estarem no fim? Quem conta os passos, os pontos e os beijos é mais louco do que os que vivem sem beijos, passos ou pontos? Quantos rostos se vêem quando se olha sozinho para o espelho? Quantas almas um corpo é capaz de guardar? Quantas vezes se é capaz de perdoar? Quantas segundas chances se dão até se compreender que os erros, a vergonha e decepção persistirão? Quanto a consciência é capaz de suportar por não ceder uma nova chance para o acaso dos laços do afeto? Quantos amores se vivem até saber que se vive sem amores? Quantos amores se vêm e vão sem recordação? Quantos marcam o peito para sempre? Quantas trevas a luz é capaz de repelir? Quanto de cada segundo se leva para o próximo? Quantas horas para a hora chegar? Quantas voltas o relógio dá até parar? Quantos suspiros até o corpo parar?
Saltou com o peito vão cheio de decepções e em busca de cura. Mergulhou no abismo a procura do que lhe faltava, nadou até o insondável. Reclinou a cabeça em um travesseiro macio de areia. E dormiu.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Dúvidas íntimas


Quantas vidas vivi desde que você se foi? Quantos sorrisos apaguei? Com quantas mentiras convivi? Quantos planos refiz? Quantas voltas eu dei? Quantas guerras, peregrinações, desertos, céus e mares eu suportei e alcancei para ver, ao menos, sua sombra ínfima? Em quantas ocasiões eu revi o seu rosto, o seu corpo, o seu cheiro e o seu gosto? Não sei nem quantas noites em claro passei. Quantas dúvidas guardei? Quantas fantasias suas criei? Em quantos bailes adentrei só para ver você sorrir sobre o meu desconforto? Quantos versos rabisquei, quantas estrofes cantei, quantos acordes toquei só para sentir você, longe, mais perto? Quantas recordações eu não freei? Quantas leis infringi? Quantos pecados cometi? Quantos sacrilégios me submeti? Por que meu coração é seqüestrado por seu linguajar pérfido? Por sua insanidade? Quantos milhares de tesouros eu fui e sou capaz de perder por você? Para quantos deuses, anjos e santos orei para que o mal não te consumisse? Quanto de infelicidade cruzei, assisti e senti? A minha dor. Mas isso é tudo tão efêmero, sim, comparado as minhas horas de amor por você e aos seus segundos de amor por mim.

domingo, 19 de junho de 2011

PcVgl

Quem será o responsável por derramar a última lágrima? Quem vai se encarregar de apagar a última, frágil e fugaz recordação de nossas vidas? Quem vai emudecer o zunir dos nossos nomes? E quando os dias nos levarem para a mesma esquina, e nos confrontarmos frente a frente como dois estranhos, dois desconhecidos, dois amantes esquecidos, quem vai desviar o olhar? Quem vai trocar as horas exíguas de amor por desprezo incontável? No ápice de nossos devaneios, somos o porquê um do outro. Fomos o atrevimento irresponsável da conjugação do verbo amar. Fomos um. Somos dois. Você se enlaça e vê da sua sacada, a derradeira sacada do prédio, a eterna escuridão do Céu, os raios, a chuva; vê o Sol no lar, na terra em que ele nasce primeiro, sempre, só para você. Ao longe um som de percussão, uma solo de gaita e uns acordes de viola. Fim da linha. "O que fazer? Meu sentimento está preso... e eu queria ter tanto você aqui".