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quarta-feira, 3 de novembro de 2010

A história de Talaitha

Certo dia de verão, desses bem quentes, em que a temperatura alta parece que vai nos cozer o cérebro e o corpo inteiro como simples animais indefesos, a maioria das pessoas despe-se de roupas em excesso e optam por vestimentas mais leves e refrescantes. O Sol impiedoso como sempre castigava todos os desprotegidos com seus raios. Vamos nos concentrar em um terreno cercado por um muro de tijolos acinzentados, dentro abrigando pouco mais de duas dúzias de grandes barracas de lona todas alinhados em um círculo. No centro, uma mesa velha, descascada e bamba recebe cartas de um baralho desbotado e sujo da mão de seus usuários que faziam o desfrute sem ter mesmo muita higiene, na verdade sem higiene alguma. Eram homens morenos, embora alguns já tivessem em algum momento da vida a pele mais clara: culpa do Sol. Não se importavam com sua aparência, não eram eles que deveriam ser esbeltos, seus rostos eram rústicos, em sua face a barba crescia despreocupadamente, em meio às risadas e provocações do, “Ganhei, ganhei”, seus sorrisos exibiam dentes desmazelados, bastante amarelos. Até o som de suas palavras soava grotescamente. Em uma das mãos que seguravam as cartas, as unhas a mostra se encontravam imundas, os dedos calejados quase em sua maioria. Mesmo com a aparência rude, eram jovens. Jovens velhos.
Na terceira tenda da esquerda, em sua entrada percebia-se jogadas a um canto algumas bonecas de pano feitas à mão. Não eram muitas o tempo, o amor e o dinheiro encarregaram-se disso. Ali, moravam Artemio, Anis e Talaitha. Talaitha herdara da avó paterna os cabelos loiros e longos, os olhos cor de mel que transpareciam alegria. Ela tinha brincado naquela manhã com suas bonecas; no sábado a mãe conseguira após muito esforço remendar o vestido da boneca maior, sua amiga, e ela não perdera tempo em brincar sozinha com elas.
Artemio como bom homem casara cedo, queria filhos homens. Quando soube que seria pai, Artemio gabou-se aos quatro cantos daquele acampamento, em todas as vinte e uma tendas que Wlademir nasceria. Contou com a sabedoria da mais idosa do grupo, Odara, ela tinha seus quarenta e tantos anos. Acreditou em suas palavras, em seu conhecimento empírico e místico.
“E como vai ser Odara?”, perguntou ele, curioso. “É menino?”
Estavam os dois sentados em um sofá coberto com uma grossa e grande cocha com alguns bordados feitos à mão, era meio desconfortável para uma gestante, mas Anis permaneceu ali, vestia um longo vestido vermelho que cobria o barrigão, de enfeite apenas um pingente em sua testa. Desses pingentes vadios, nada de muito valor comercial, mas era um presente. Anis recebera com um entusiasmo grande, parecia receber uma jóia de valor exorbitante: o mísero pingente havia sido fabricado com um material vagabundo, nem era preciso ser um joalheiro para identificar, nem quem fizera deveria receber os pagos do serviço. Anis, por sua vez, a exibia feliz, jactava-se pensando que aquele pingente adornaria mais sua beleza.
“É menino?”, grunhiu Artemio.
“Certamente que sim”, respondeu Odara, que estava de pé, junto com Anis e Artemio que olhava para mão de Odara repousada sobre o ventre da mulher, Odara parecia se comunicar com a barriga de Anis e tornava a olhar para o rosto das duas. Olhava para mão de Odara, para o ventre de Anis, para o rosto das duas; olhava como uma criança curiosa.
E Odara a mais velha do grupo derramou algumas poucas lágrimas de felicidade.
Artemio saíra da tenda de Odara aos berros pelo acampamento afora “É menino! É menino!”
Tendo a solidão como companheira, Anis ouvira o final das palavras de Odara.
“São... duas crias... menino... menina...”.
Wlademir nunca chegaria a nascer: morrera no parto para grande lamúria de seu pai, embora não culpasse Anis. Decerto, gostaria menos de Talaitha. Às vezes se pegava sozinho pensando, pensando... Tinha feito planos para o filho que nunca viveria para realizá-los.
Naquela manhã quente de verão, Talaitha largara as bonecas rapidamente. Naquela manha desconfortável sairia com sua mãe. Pela primeira vez sairia daquele acampamento para ver como era o mundo lá fora, dessa maneira não importava o clima que estava fazendo. A mãe havia ajudado-a a arrumar-se: maquiagem aparente, sorriso no rosto.
“Vamos Talaitha”, chamou Anis.
E foram. A mãe carregava dois baldes grandes para despejarem água e trazerem para as atividades do dia, o acampamento não tinha água encanada, e hoje Talaitha iria com sua mãe, pois a mãe de Anis havia adoecido. Ou foi um meio usado por Anis. Não sabemos ao certo. Percorreram todo o caminho ao som do barulho das buzinas dos carros. O som e a imagem do lado de fora do acampamento soavam diferentes para Talaitha, dentro do acampamento ela ouvia o barulho dos carros bem baixinho e se perdia a imaginar que formatos tinham. Atravessaram juntas a rua, uma pegando a mão da outra, mãe e filha. O caminho que percorreram era cheio de carros, casas, pessoas e sons. Chegaram a uma pequena pracinha com algumas árvores grandes e uns banquinhos de pedra que se espalhavam ao longo da praça, Talaitha olhava tudo com entusiasmo e atenção, era um mundo novo que sorria para ela, um sorriso sem graça, coitada, não sabia disso ainda. Parecia viver num conto de fadas e vivia: talvez, para todos nós seja mesmo a infância esse momento, em que se pode voar e tocar o céu.
Havia algumas pessoas sentadas em um dos bancos de pedra, encaravam-nas com um olhar diferente: desaprovação. Anis abaixou a cabeça, apertou a mão da filha, que retribuiu com um olhar assombrado. O impulso de proteção ou medo vindo da mãe recebia o olhar perplexo da filha.
“O que foi mamãe?”
Anis não respondeu, deixou a resposta passar pelo seu canal auditivo como uma brisa sem som, as palavras da pergunta de Talaitha foram levadas, embora sem resposta. Anis perdera a chance de tentar fazer a filha entender o que passariam todas as vezes que saíssem da comunidade. Agora Talaitha saberia sozinha.
Ao passarem perto o suficiente de um grupo de pessoas mais em frente, sentiram pararem de conversar repentinamente. Em menos de segundos, o silêncio perdera vez para risadas. Talaitha olhou para trás perplexa, sem saber o que estava acontecendo. Olhou inocente para si “O que há de errado?” vestia um vestido muito colorido e farto, estava usando jóias e maquiagem “O que há de errado comigo...?” antes de Anis apressar o passo para afastarem-se, Talaitha sentiu que o motivo das risadas eram elas... zombavam delas... ridicularizavam o modo como se vestiam, como se maquiavam, como vivam... Agora não chorava porque haviam mandado ela parar de brincar, de seus olhos saltaram lágrimas inocentes... sentiu vergonha de quem era, sentiu vontade de não estar ali...
Um castelo de areia não é difícil de ser construído, é mais fácil ainda de ser levado, qualquer marola suficientemente esperta pode atingi-lo e acabar um trabalho bem feito com uma rapidez inesperada, caso você prepare bem seu castelo ele pode durar algum tempo, mas inevitavelmente o mar vai levá-lo e a brincadeira vai acabar.
O mundo sublime dela, talvez só existisse dentro dela. Aqui fora as pessoas eram más, pensou consigo, já longe da pracinha e das pessoas, embora as risadas ecoassem dentro de sua cabeça e ecoariam para sempre. Daquele dia em diante, Talaitha não aprenderia somente a carregar um balde cheio de água, nem a ouvir pessoalmente o barulho dos carros, nem que o trabalho das mulheres era o mais cansativo, nem que abandonaria as bonecas para sempre; aprenderia que existia algo de errado com ela, embora não existisse.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Sem nada de melhor para fazer

E se repentinamente você descobrisse que tudo que você colocou como importante em sua vida fosse uma ilusão? Seus sonhos não passassem de sentimentos desvairados e sem sentido algum? Os amores que você amou não fossem amores, nada fosse de verdade? Se as palavras de carinho que você recebesse fossem só palavras? Em sua boca você sentiria o sentimento amargo, forte e dilacerante do fracasso. A vida simplesmente, por um momento, não faria mais sentido: você apertaria o botão desistir? Poderia lhe faltar a coragem ou a covardia.

Minha professora deve ter me ensinado para eu acreditar nos meus sonhos com medo de que desde cedo eu não quisesse mais lutar.
Os sentimentos são como chama de vela, quando vivos iluminam e aquecem os que estão ao redor. Aconchegam e fazem você se sentir vivo, mas o mínino descuido faz com que um minúsculo sopro venha e leve tudo embora.

Onde eu estou agora?

O vento apagou as chamas da vela e tudo agora são sombras.

sábado, 3 de julho de 2010

O doce amargo

Acabou. A sexta-feira amanheceu alegre, como todos os dias em que o Brasil jogava. As pessoas todas confiantes no Brasil. A Copa do Mundo é mesmo um fenômeno no nosso país. Não vou falar sobre como foi o jogo, nem fazer análises táticas, criticar a convocação de Dunga ou dizer que ele é um mau ou bom treinador. Eu quero falar de sentimentos, porque de verdade, a maioria dos brasileiros não entendem de 1-4-4-2, 1-4-3-3, 1-3-5-2 nem os homens que se dizem os senhores do futebol por saberem o que é uma linha de impedimento, um pênalti e por terem força de conseguirem chutar uma bola no gol, muito menos as mulheres, que em alguns momentos não entendem o porquê de ficar vendo tantos homens correndo atraz de uma bola 90 minutos, quando assistem poucas entendem, prestigiam mais a beleza dos jogadores.

Futebol não é complicado é só fazer uma bola atravessar uma linha que é protegida por um goleiro. É só isso, não existe mais nada, quem fizer mais gols ganha. Então, por que as pessoas gostam tanto? Porque o futebol não perdoa, se você  errar é vilão, se acertar é heroi, e no mesmo jogo pode ir do Éden ao Hades.

Depois das duas punhaladas da Holanda, preces foram oferecidas aos céus pedindo que a qualquer momento um gol surgisse: o gol não veio, o Brasil não seguiria adiante: nossos fantasmas de 98 e 06 haviam voltado. A sexta-feira perdeu um pouco do brilho, tornou-se melancólica, não triste, as risadas se continham. Das pessoas que menos esperamos surgiram lágrimas, crianças, garotos, idosos, nossos pais, nossos amigos: do mais durão ao mais frágil. O silêncio era o da derrota, a tranquilidade era a privação da alegria. Nós havíamos sido vencidos.
Acabou. Mas isso não é verdade, não totalmente, nós sabemos, quando o Brasil voltar a jogar o desejo de ver a seleção vai começar de novo, existirão novas edições para a Copa do Mundo; pintaram as ruas, reuniram-se na frente da tevê, talvez com a narração de Galvão Bueno, riremos com nossos amigos, é bem capaz que façamos tudo de novo. É verdade que outras coisas bem mais tristes do que perder um Copa do Mundo aconteceram, veremo-nos em 2014, porém essa Copa teve imagens marcantes: não esqueceremos do choro que saiu e do grito que ficou preso.

domingo, 27 de junho de 2010

Coisas que aprendi nas férias

1º - As coisas mais engraçadas e interessantes para comentar só acontecem quando estamos longe dos amigos;

2º - A gente sempre acaba esquecendo dessas coisas quando voltamos das férias; (Por isso eu escrevi essa merda).

3º - Por incrível que pareça a gente sente saudades do colégio e da nossa rotina normal;

4º - Quando voltamos das férias descobrimos que estávamos muito enganados...

5º - Se você resolver ficar em casa, você vai acabar trabalhando do mesmo jeito! (Ou você acha que sua mãe vai lhe perdoar por não procurar aquela moedinha que teima em se esconder embaixo do sofá ou do guarda-roupa?);

6º - Se resolver viajar vai terminar lascado e sem dinheiro! (As passagens de ônibus estão muito caras e você não tem dinheiro para comprar passagem de avião);

7º - Se for esperar uma carona, você nunca vai sair do lugar. (Afinal, quem é que hoje dia vai dar carona pra um lascado sem dinheiro?);

8º - Se você viajar com algum conhecido vai ter que “rachar” a gasolina. (E vai continuar lascado);

9º - Se for para a casa de algum parente, você vai ter que agüentar muita conversa idiota e histórias do tempo em que seu pai ou sua mãe eram crianças. (Isso acontece principalmente na casa dos seus avós);

10º - Se você for passar as férias num lugar perto da cidade onde você mora você vai ver as mesmas caras de sempre em todos os lugares. (Isso acontece principalmente na Baía da Traição);

11º Se for para um lugar longe e chique, você vai se perder ser chamado de idiota e farofeiro sem educação. (Agora eu fui longe, “Farofeiro sem educação”, qual é o lugar que tem farofeiro e tem educação e onde é que tem educação e tem farofeiro?). Essas coisas nunca andarão juntas!

12º - Mas nem tudo são desgraças, no final a gente ver o quanto é fácil fazer seu amigo prestar atenção nas merdas que você escreveu. (E então você passa a ser chamado de observador por alguns e de retardado sem graça por todos).





AYRON VICTOR DOS SANTOS

terça-feira, 15 de junho de 2010

Ah! A Copa do Mundo

Passaram-se mais de quatro anos. O Brasil vai voltar ao início de mais uma disputa de Copa do Mundo. O que mais me chama atenção é a enxurrada de bandeirolas que tremulam nos automóveis, na sacada dos prédios, aos incentivos públicos nos sites de relacionamento. A volta a embalada do dia com as cantigas feitas para nossa seleção, a população que se cobre com as cores verde e amarela, e sentem-se felizes em serem brasileiros. Ah! A Copa do Mundo! Faz você até enxergar que existe uma tal de África, que Nelson Mandela lutou contra repreensão e tudo o mais; África não é só um continente penúrio, cheio de misérias, com uma população retrógrada e infecto. A Copa do Mundo globaliza a informação e os sul-africanos exibem seu país.

Todo mundo vai estar ligado próximo de uma tevê e mesmo aqueles que não comungam da ideia do futebol não poderão ensurdecer mediante os barulhos de vuvuzelas, gritos, fogos, músicas. O Brasil vai parar? Não sei se ficaremos inertes totalmente, porém por 90 minutos o Brasil vai remar sem pressa. Olhos vidrados acompanhando cada lance, mentes pegadas as suas crenças. Não existe melhor maneira de unificar o Brasil. Ah! A Copa do Mundo! Algumas de suas partidas ficam gravadas em nossa mente, são alguns desses jogos o ápice da alegria coletiva e são alguns desses jogos os algozes de nossa lamúria. Na Copa do Mundo, o Brasil ganha novos herois, novos vilões, novos carrascos. Haja o que houver nossos corações se voltarão para nossa seleção; nem que seja por alguns míseros segundos você vai pensar, você vai escutar, você vai se alegrar. Você vai acreditar no Brasil.
Hoje a caminhada começa.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Chorei à noite
Pela falta de visão
Que me fez cego às necessidades de alguém;
Mas nunca na vida
Senti um pingo de remorso
Por ter sido bondoso demais

domingo, 30 de maio de 2010

Buscar um lugar ao sol requer muitas chuvas .
Requer noites em claro e dias escuros.
Sem muitos céus nem muitos mares, sem rotas a seguir e ninguem a guiar.
Um lugar ao sol... quem não almeja ?
Quem não fecha os olhos e vê?
Quem não tapa os ouvidos e ouve?
É lá que o amor é o maior dos sentimentos,
é a força que move o vento e não é preciso elevar-se taõ alto pra senti-lo
tão grande e infinito .
É lá que as nuvens se igualam a relva e a felicidade
é apenas um bonus diario.
Sonhar acordado com um lugar que é vedado pra muitos,
Sonhar é mesmo pra poucos e pra loucos !
É pra quem acredita que seu lugar é alcançavel e está guardado ao seu tempo.

"Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu." ( Eclesiastés 3 )

CAMILA PEREIRA

sábado, 22 de maio de 2010

Se eu tivesse apenas uma hora de amor

  Se isso fosse tudo a me ser dado

  Uma hora de amor nesta Terra

  Meu amor eu ti daria 

O Mouro

sábado, 24 de abril de 2010

The Conquest Of Paradise

Muito trabalho. Assim pode se resumir esses últimos meses, em que tudo ia, voltava, mas não saia do centro. Nem sequer por um segundo, nem por suas divisões. A peça era o centro de pelo menos uma boa parte dos componentes do Grupo de Teatro Moderno. E ter João como diretor é sem dúvida, uma grande satisfação, ele era a pessoa que mantinha os nossos olhos voltados para frente. Quando fomos todos selecionados em seus devidos postos, passamos a fazer um estudo com o texto que ia sendo-nos entregue. Os ensaios passaram a surgir duas vezes por semana, e as técnicas corporais aprimoradas. João nos enchia de vontade toda a vez que afirmava com ênfase que os nossos antecessores eram muito mais responsáveis e qualificados do que nós. Vontade de superar os outros, de mostrar que também éramos capazes; vontade de mostrar a João que ele não iria se decepcionar com o grupo. Essa seria a nossa gasolina. Foi o que pensei na época. Estava enganado.

O grupo mostrava uma ociosidade enorme e gritante. Era notável a falta de interesse por parte de alguns atores e a decepção por parte de nosso diretor. Não era este tipo de grupo que ele imaginava para a festa dos 60 anos do Instituto Moderno.

Arrastamo-nos por quase três meses em horários confusos e desorganizados, falta de responsabilidade, descrença e críticas. Não se poderia fazer uma aposta do que aconteceria quando as cortinas do dia da apresentação fossem abertas. Nunca havíamos trabalhado juntos. Teríamos uma apresentação em que, teríamos que vencer e sobrepujar nossas faltas e falhas. Isso não seria fácil. Fomos avançando aos poucos, descobríamos devagar a arte de interpretar e lentamente caminhávamos. Aos poucos e, talvez, tendo que apostar nas peças que tinha, João passou a elogiar-nos, é claro que as vezes ele era obrigado a ter que acreditar em nós - éramos os únicos - mas era bem verdade que nomes despontavam. Eu não conheci todo o grupo. Conheci o essencial. Comemoro hoje pelas amizades que eu consegui adquirir e pelas pessoas que eu descobri que existiam, são pessoas indeléveis.

Chegamos à última semana, cansados e carregando a incerteza de que teríamos uma apresentação brilhante. Eu pensei que depois de tantos problemas chegaríamos prontos para o Grande Dia. O Grande Dia havia chegado, porém a solução de nossos problemas não. Nós é que somos a solução de nossos problemas ou pelo menos somos o princípio. E se alguns problemas foram vencidos, deve-se ao trabalho empregado nestes. No penúltimo dia, João mostrava a segurança que o tempo traz. Nada de palavras afáveis.

Chegamos ao Grande Dia. Sempre que chegamos perto do fim e olhamos para trás admitimos que as coisas passam rápidas demais. Talvez, seja a óptica de quem está completando um percurso. Antes de subir ao palco João estava inconformado com sua mulher, ela não viria até a apresentação. Ele estava inseguro se valia a pena ter chegado até ali. Eu só observei-o. Todos nos reunimos antes de começar, fizeram preces, executaram todo ritual que antecedia a entrada em ação. João Bezerra pediu que antes do espetáculo começasse, pudesse fazer o uso da palavra. Ele queria dizer algumas verdades, que foram dirigidas a falta de apoio, a inconstância do grupo e a certeza que ele tinha que faríamos o melhor e, que éramos bons o bastante para vencer os nossos desafios. Ele foi persistente. As cortinas foram abertas: lembro-me das lágrimas nos olhos de João e do público, da voz de Camila pedindo calma, dos biscoitos do camarim e da última música de nossa apresentação. Ayron não poderia ter escolhido canção melhor, chamasse The Conquest Of Paradise. Conquistar o Paraíso. Os aplausos foram o mérito recebido pela obra executada. Não fomos perfeitos e no final nem tudo deu certo. Não devemos ser exaltados, apenas lembrados, porque nós tivemos a coragem de lutar.

domingo, 18 de abril de 2010

Sonhar o sonho impossível,
Sofrer a angústia implacável,
Pisar onde os bravos não ousam,
Reparar o mal irreparável,
Amar um amor casto à distância,
Enfrentar o inimigo invencível,
Tentar quando as forças se esvaem,
Alcançar a estrela inatingível:
Essa é a minha busca

Dom Quixote de La Mancha

sábado, 20 de março de 2010

“É difícil para os jovens compreenderem a solidão que lhes advém quando a vida muda de um tempo de preparação e desempenho para um tempo de pôr as coisas de lado. (…) Por muito tempo, a pessoa foi o centro da casa, alguém muito procurado, e então, quase de repente, é deixada de lado para ver a procissão passar: isso é viver em solidão. (…) Temos de viver muito tempo para aprender como é vazio o quarto no qual há apenas móveis. É preciso alguém (…) não simplesmente uma pessoa contratada, uma instituição ou um profissional, para reviver as lembranças do passado e mantê-las calorosamente vivas no presente. (…) Não há como trazer de volta os anos da juventude; mas podemos ajudar essas pessoas a viver na cálida luz do pôr-do-sol, que se torna mais belo graças a nossa atenção (…) e amor não fingido.”

domingo, 7 de março de 2010

In Utero - Californication

Querida Karen,

Se estiver lendo isso é porque eu tive coragem de mandar. Bom para mim. Não me conhece muito bem, mas se deixar, tenho tendência de falar que tenho dificuldade para escrever.
Mas isso...
É a coisa mais difícil que já tive de escrever. Não há maneira fácil de dizer, então vou dizer logo. Conheci uma pessoa. Foi um acidente, eu não estava à procura. Foi uma tempestade perfeita. Ela falou algo, eu também. Quando vi, queria passar o resto da minha vida nessa conversa.
Agora, estou com a intuição de que ela pode ser a mulher certa. Ela é totalmente louca, de um jeito que me faz sorrir, altamente neurótica. Exige uma grande quantidade de renovação. Ela é você, Karen. Essa é a boa notícia. A má é que não sei como ficar com você nesse momento. E isso assusta. Porque se não ficar com você agora, sinto que nos perderemos. O mundo é grande, mal, cheio de reviravoltas. As pessoas costumam piscar e perder um momento. O momento que poderia mudar tudo.
Não sei o que está acontecendo entre nós, e não sei por que deveria gastar seu tempo comigo. Mas como seu cheiro é bom! Como o lar. E faz um ótimo café, isso tem que valer alguma coisa. Mas, para mim... Quero que você esteja no final. Quero que seus olhos sejam a última coisa que eu veja.

Ligue-me.

Seu infiel,

Hank Moody

Conselho de um velho apaixonado - Drummond

Quando encontrar alguém e esse alguém fizer
seu coração parar de funcionar por alguns segundos,
preste atenção: pode ser a pessoa
mais importante da sua vida.

Se os olhares se cruzarem e, neste momento,
houver o mesmo brilho intenso entre eles,
fique alerta: pode ser a pessoa que você está
esperando desde o dia em que nasceu.

Se o toque dos lábios for intenso, se o beijo
for apaixonante, e os olhos se encherem
d'água neste momento, perceba:
existe algo mágico entre vocês.

Se o 1º e o último pensamento do seu dia
for essa pessoa, se a vontade de ficar
juntos chegar a apertar o coração, agradeça:
Algo do céu te mandou
um presente divino : O AMOR.

Se um dia tiverem que pedir perdão um
ao outro por algum motivo e, em troca,
receber um abraço, um sorriso, um afago nos cabelos
e os gestos valerem mais que mil palavras,
entregue-se: vocês foram feitos um pro outro.

Se por algum motivo você estiver triste,
se a vida te deu uma rasteira e a outra pessoa
sofrer o seu sofrimento, chorar as suas
lágrimas e enxugá-las com ternura, que
coisa maravilhosa: você poderá contar
com ela em qualquer momento de sua vida.

Se você conseguir, em pensamento, sentir
o cheiro da pessoa como
se ela estivesse ali do seu lado...

Se você achar a pessoa maravilhosamente linda,
mesmo ela estando de pijamas velhos,
chinelos de dedo e cabelos emaranhados...


Se você não consegue trabalhar direito o dia todo,
ansioso pelo encontro que está marcado para a noite...

Se você não consegue imaginar, de maneira
nenhuma, um futuro sem a pessoa ao seu lado...

Se você tiver a certeza que vai ver a outra
envelhecendo e, mesmo assim, tiver a convicção
que vai continuar sendo louco por ela...

Se você preferir fechar os olhos, antes de ver
a outra partindo: é o amor que chegou na sua vida.

Muitas pessoas apaixonam-se muitas vezes
na vida poucas amam ou encontram um amor verdadeiro.

Às vezes encontram e, por não prestarem atenção
nesses sinais, deixam o amor passar,
sem deixá-lo acontecer verdadeiramente.

É o livre-arbítrio. Por isso, preste atenção nos sinais.
Não deixe que as loucuras do dia-a-dia o deixem
cego para a melhor coisa da vida: o AMOR !!!

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

"A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca e que, esquivando-nos do sofrimento, perdemos também a felicidade." Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

E você, acredita em anjos?




Baseado numa história real

Um relato da história de Clyn D. Barrus da BYU

Por Élder Jeffrey R. Holland


(...)

Falando de sua infância, passada em uma grande fazenda de Idaho, o irmão Barrus contou que sua responsabilidade noturna era reunir as vacas para a ordenha. Como as vacas pastavam em um local que margeava o, às vezes perigoso, rio Teton, a regra estrita na família Barrus era de que, durante as enchentes da primavera, os filhos nunca deveriam ir atrás das vacas que tentassem atravessar o rio. Deviam, em vez disso, voltar a casa e pedir ajuda aos mais velhos.

Certo sábado, logo depois de seu sétimo aniversário, os pais do irmão Barrus prometeram à família que iriam ao cinema, se as tarefas fossem terminadas a tempo. Mas quando o pequeno Clyn chegou ao pasto, as vacas que ele procurava tinham atravessado o rio, mesmo com as águas em seu volume mais alto. Sabendo que a incomum oportunidade de ir ao cinema corria risco, ele decidiu ir sozinho atrás das vacas, apesar de ter sido alertado várias vezes para nunca fazê-lo.

Ao fazer seu velho cavalo, Banner, entrar na correnteza fria e rápida, o menino mal conseguia ver a cabeça do cavalo acima d’água. Um adulto sobre um cavalo estaria seguro, mas por ser tão pequeno, a correnteza cobria o irmão Barrus completamente, exceto quando o cavalo, aos saltos, se lançava à frente, fazendo a cabeça de Clyn sair da água só o suficiente para respirar.

Agora narro nas palavras do próprio irmão Barrus:

“Quando o cavalo finalmente galgou a outra margem, entendi que minha vida correra grande perigo e que eu tinha feito algo terrível — eu desobedecera conscientemente a meu pai. Senti que só poderia me redimir se trouxesse as vacas em segurança de volta. Talvez assim meu pai me perdoasse. Mas já estava ficando escuro e eu não tinha certeza de onde estava. O desespero tomou conta de mim. Eu estava molhado, com frio, perdido e apavorado.

Desci do cavalo, caí ao chão e comecei a chorar. Entre os fortes soluços, tentei fazer uma oração, repetindo várias vezes ao Pai Celestial: ‘Sinto muito. Perdoe-me! Sinto muito. Perdoe-me’!

Orei por muito tempo. Quando finalmente ergui a cabeça, vi entre lágrimas um ser vestido de branco vindo em minha direção. Na escuridão, tive certeza de que era um anjo enviado em resposta a minhas orações. Não mexi um dedo nem fiz ruído enquanto ele se aproximava, tão assombrado estava eu com a visão. O Senhor realmente enviaria um anjo a mim, que tinha sido tão desobediente?

Então, uma voz familiar disse: ‘Filho, estava procurando você. Na escuridão, reconheci a voz de meu pai e corri para seus braços estendidos. Ele me abraçou apertado e disse amorosamente: ‘Fiquei preocupado. Que bom que o encontrei’.

Tentei dizer-lhe o quanto sentia, mas só palavras desconexas saíram de meus lábios trêmulos — ‘Obrigado (…) escuridão (…) medo (…) rio (…) sozinho’. Mais tarde fiquei sabendo que meu pai saíra a minha procura quando viu que eu não tinha voltado do pasto. Ao não encontrar nem a mim nem as vacas, ele soube que eu tinha atravessado o rio e que corria perigo. Devido à escuridão e à escassez de tempo, ele tirou as roupas e ficou só com a ceroula térmica branca, amarrou os sapatos ao pescoço e atravessou a nado o traiçoeiro rio para resgatar o filho que se perdera.”(...) Testifico-lhes que exitem anjos tanto celestiais, quanto mortais. Deus nunca nos deixa sozinhos nem desamparados nos desafios que enfrentamos.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Um Messias Indeciso - Raul Seixas


*Aguardem o vídeo carregar por completo, eu sei que tem internet que não são as mil maravilhas (como a minha) mas, você não vai se arrepender. A canção que mais gosto de Raul, uma visão diferente de Jesus.


***

Certa vez houve um homem
Comum, como um homem qualquer
Jogou pelada descalço
Cresceu e formou-se em ter fé

Mas nele havia algo estranho
Lembrava ter vivido outra vez
Em outros mundos distantes e assim acreditando se fez

E acreditanto em si mesmo
Tornou-se o mais sábio entre os seus
E o povo pedindo milagres
Chamava esse homem de Deus

Há quantas ilusões 2x
Nas luzes do arredor
Quantos segredos terá 2x

E enquanto ele trabalhava
Na sua tarefa escolhida
A multidão se aglomerava
Perguntando o segredo da vida

E ele falou simplismente
Destino é a gente que faz
Quem faz o destino é a gente
Na mente de quem for capaz

E vendo o povo confuso
Que terrível, cada vez mais lhe seguia
Fugiu pra floresta sozinho
Pra Deus perguntar pra onde ia

Há quantas ilusões 2x
Nas luzes do arredor
Quantos segredos terá 2x

Mas foi sua própria voz que falou
Seja feita a sua vontade
Siga o seu próprio caminho
Pra ser feliz de verdade

E aquela voz foi ouvida
Por sobre morros e vales
Ante ao messias de fato
Que jamais quis ser adorado 2x

Há quantas ilusões 2x
Nas luzes do arredor
Quantos segredos terá 2x

***

* Diálogo entre Jesus Cristo e Judas:

JUDAS: Diga-me seu segredo!

JESUS: Pena!

JUDAS: Pena de quem? De você mesmo?

JESUS: Pena dos homens.

JUDAS: Nossos inimigos são homens!

JESUS: Eu sinto pena de tudo... mulas, grama, pardais...

JUDAS: E as formigas? Sente pena delas também?

JESUS: Sim! Tudo faz parte de Deus. Quando vejo uma formiga, ou olho para o seu olho negro e brilhante, sabes o que eu vejo? Eu vejo a face de Deus.


Até que ponto você iria pelo que acredita?