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sábado, 24 de abril de 2010

The Conquest Of Paradise

Muito trabalho. Assim pode se resumir esses últimos meses, em que tudo ia, voltava, mas não saia do centro. Nem sequer por um segundo, nem por suas divisões. A peça era o centro de pelo menos uma boa parte dos componentes do Grupo de Teatro Moderno. E ter João como diretor é sem dúvida, uma grande satisfação, ele era a pessoa que mantinha os nossos olhos voltados para frente. Quando fomos todos selecionados em seus devidos postos, passamos a fazer um estudo com o texto que ia sendo-nos entregue. Os ensaios passaram a surgir duas vezes por semana, e as técnicas corporais aprimoradas. João nos enchia de vontade toda a vez que afirmava com ênfase que os nossos antecessores eram muito mais responsáveis e qualificados do que nós. Vontade de superar os outros, de mostrar que também éramos capazes; vontade de mostrar a João que ele não iria se decepcionar com o grupo. Essa seria a nossa gasolina. Foi o que pensei na época. Estava enganado.

O grupo mostrava uma ociosidade enorme e gritante. Era notável a falta de interesse por parte de alguns atores e a decepção por parte de nosso diretor. Não era este tipo de grupo que ele imaginava para a festa dos 60 anos do Instituto Moderno.

Arrastamo-nos por quase três meses em horários confusos e desorganizados, falta de responsabilidade, descrença e críticas. Não se poderia fazer uma aposta do que aconteceria quando as cortinas do dia da apresentação fossem abertas. Nunca havíamos trabalhado juntos. Teríamos uma apresentação em que, teríamos que vencer e sobrepujar nossas faltas e falhas. Isso não seria fácil. Fomos avançando aos poucos, descobríamos devagar a arte de interpretar e lentamente caminhávamos. Aos poucos e, talvez, tendo que apostar nas peças que tinha, João passou a elogiar-nos, é claro que as vezes ele era obrigado a ter que acreditar em nós - éramos os únicos - mas era bem verdade que nomes despontavam. Eu não conheci todo o grupo. Conheci o essencial. Comemoro hoje pelas amizades que eu consegui adquirir e pelas pessoas que eu descobri que existiam, são pessoas indeléveis.

Chegamos à última semana, cansados e carregando a incerteza de que teríamos uma apresentação brilhante. Eu pensei que depois de tantos problemas chegaríamos prontos para o Grande Dia. O Grande Dia havia chegado, porém a solução de nossos problemas não. Nós é que somos a solução de nossos problemas ou pelo menos somos o princípio. E se alguns problemas foram vencidos, deve-se ao trabalho empregado nestes. No penúltimo dia, João mostrava a segurança que o tempo traz. Nada de palavras afáveis.

Chegamos ao Grande Dia. Sempre que chegamos perto do fim e olhamos para trás admitimos que as coisas passam rápidas demais. Talvez, seja a óptica de quem está completando um percurso. Antes de subir ao palco João estava inconformado com sua mulher, ela não viria até a apresentação. Ele estava inseguro se valia a pena ter chegado até ali. Eu só observei-o. Todos nos reunimos antes de começar, fizeram preces, executaram todo ritual que antecedia a entrada em ação. João Bezerra pediu que antes do espetáculo começasse, pudesse fazer o uso da palavra. Ele queria dizer algumas verdades, que foram dirigidas a falta de apoio, a inconstância do grupo e a certeza que ele tinha que faríamos o melhor e, que éramos bons o bastante para vencer os nossos desafios. Ele foi persistente. As cortinas foram abertas: lembro-me das lágrimas nos olhos de João e do público, da voz de Camila pedindo calma, dos biscoitos do camarim e da última música de nossa apresentação. Ayron não poderia ter escolhido canção melhor, chamasse The Conquest Of Paradise. Conquistar o Paraíso. Os aplausos foram o mérito recebido pela obra executada. Não fomos perfeitos e no final nem tudo deu certo. Não devemos ser exaltados, apenas lembrados, porque nós tivemos a coragem de lutar.

Um comentário:

  1. "Quanto medo de não ter
    a herança de um rei..."

    Era esse o nosso pensamento antes de tudo tomar forma. Tivemos momentos de raiva e alegria, rimos várias vezes e da mesma forma tivemos vontade de matar uns aos outros, mas hoje eu tenho saudade de tudo aquilo, tenho saudade de ir pra o colégio de manhã e não dar de cara com ninguém, tenho saudade de pensar em qual música colocar nas cenas, tenho saudades das horas que passei na frente do computador editando as músicas pra que tudo desse certo...

    Posso dizer que naquele dia tudo estava do nosso lado, mesmo que a gente teimasse em dizer que não! Não sei se vai vir outro grande trabalho como aquele, mas se vier vamos "Conquistar o Paraíso"!

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